O centauro no jardim

2021-02-08T20:00:46-02:00

Hoje falarei do livro O Centauro no jardim, obra fascinante do escritor gaúcho Moacir Scliar, que morreu em 2011 e é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira contemporânea.

Antes de mais nada, tente imaginar esta situação. E se você soubesse que o mais novo integrante da sua família não é um garoto comum?

Talvez dissesse: Ótimo! Bem vindo ao mundo!

Já vimos algumas histórias assim.

Mas e se o tal garoto fosse um centauro? Sim, centauro, um ser fantástico, metade homem, metade cavalo?

Pode ser que você também já tenha lido histórias sobre eles. Contudo, nem sempre escritas com o talento de Scliar.

Este é apenas o conflito inicial da obra de Moacyr Scliar, o Centauro no Jardim, que a partir deste evento fantástico, traz entre fábula e realismo, a história de Guedali, filho de um casal de imigrantes judeus russos.

Neste livro, que vai muito além de seu mote inicial, o leitor vai o tempo todo pairando entre realidade e ficção, o sublime e o bestial.

Capa da edição de bolso de O centauro no jardim
Capa da edição de bolso de O centauro no jardim

O enredo de: O centauro no jardim

Narrada em primeira pessoa, a obra mostra, em flashbacks, as dificuldades enfrentadas por Guedali desde o nascimento, o preconceito na infância, sua luta para se manter na sociedade e respeitar, ao mesmo tempo, seus instintos.

O narrador passa por acontecimentos em Quatro Irmão e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até chegar ao Marrocos, onde outro evento fantástico mudará sua vida. Ou nem tanto.

Por outro lado, conhecemos também outra versão dos fatos, dada por sua esposa Tita, que coloca no leitor a dúvida. Em quem acreditar?

Meu pai olha ao redor, sem compreender. As filhas estão encolhidas num canto, apavoradas, soluçando. Minha mãe jaz sobre a cama, estuporada. Mas o que está acontecendo aqui, grita meu pai, e é então que me vê.

Estou deitado sobre a mesa. Um bebê robusto, corado; choramingando, agitando as mãozinhas – uma criança normal, da cintura para cima. Da cintura para baixo: o pelo de cavalo. As patas de cavalo. A cauda, ainda ensopada de líquido amniótico, de cavalo. Da cintura para baixo, sou um cavalo. Sou – meu pai nem sabe da existência deste entidade – um centauro. Centauro.

Trecho do livro O centauro no Jardim

Além do conflito inicial

Como resultado, a figura deste centauro pode representar muitos conceitos (de identidade, religiosos, étnicos) que a narrativa provocadora de Scliar nos oferece como presente, nesta obra de 1980, que já foi traduzida em diversas línguas.

Da mesma forma, o autor usa a imigração judaica, suas tradições, pensamentos e integração socioeconômicas. Tudo por meio do realismo fantástico.

Por fim, através dos sentimentos de inadaptação de Guedali encaramos sua dificuldade em aceitar a realidade como ela é. O que nos abre muitas possibilidades interpretativas.

Agora é sem galope. Agora está tudo bem.

Somos, agora iguais a todos. Já não chamamos a atenção de ninguém. Passou a época em que éramos considerados esquisitos – porque nunca íamos à praia, porque a Tita, minha mulher, andava sempre de calças compridas. Esquisitos, nós? Não. Na semana passada veio procurar a Tita o feiticeiro Peri, e, aquele sim, era um homem esquisito – um bugre pequeno e magro, de barbicha rala, usando anéis e colares, empunhando um cajado e falando uma língua arrevesada. Talvez pareça inusitado uma criatura tão estranha ter vindo nos procurar; contudo, qualquer um é livre para tocar campainhas. E, mesmo, quem estava vestido esquisito era ele, não nós. Nós? Não. Nós temos uma aparência absolutamente normal.

Trecho do livro: O Centauro no Jardim

Portanto, a leitura de O Centauro no Jardim está mais que recomendada.

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Dados do livro

Título: O Centauro no Jardim
Autor: Moacyr Scliar
Editora: Cia. das Letras
Edição 2011 – Companhia de Bolso
Páginas: 218
Ficção brasileira

Capa da edição de 2004 do livro O Centauro no Jardim
Capa da edição de 2004 do livro O Centauro no Jardim

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