Gosta de contos de fadas em versões sombrias? Já se imagina lendo ao redor da fogueira, arrepiando os cabelos? Então conheça o livro Contos da Meia-Noite do Mundo, um livro de arrepiar.
Mas a tradicional linha entre bem e mal das versões mais conhecidas, por vezes aqui, não existe.
Antes de tudo aviso que em Contos da Meia-Noite do Mundo vemos histórias sem preocupações com finais felizes. Fato que, para Rodolfo Castro, pode se aproximar mais da verdade e da época em que estas histórias nasceram.
As histórias de Contos da Meia Noite do Mundo
O autor se dedicou a pesquisar, inicialmente para a criação de um espetáculo de narração oral, textos e contextos ligados a estas histórias, aos hábitos das aldeias e as perversões das casas reais.
Dizem que houve um casamento entre um príncipe e uma donzela. E há quem ainda pense que isso é um final feliz.
E ainda nos apresenta alguns questionamentos: afinal, o que é um final feliz? Um casamento com um príncipe? Versões de bondade extrema que subvertem a essência dos personagens?
Entretanto, sem entrarmos muito em questões psicanalíticas de identificação com o triunfo dos heróis, não deixa de ser prazeroso ter acesso a estas narrativas do velho mundo, raras.
Talvez trechos de múltiplos recontos, recolhidos de fontes antigas que recorreram a outras que as precederam ou ainda ficções reinventadas, já que, como diz Rodolfo, estas versões não tentam ser fiéis aos originais.
Quem sabe?
Em Contos da Meia-Noite do Mundo temos três contos horripilantes, perturbadores até.
Todas focadas no universo feminino em confronto com a violência do poder e da sociedade, para o autor, lado mais revelador que os outros.
Versões antigas de clássicos contos de fadas que foram suavizados ao longo do tempo, para não mostrar finais, muitas vezes brutais, onde certos comportamentos e práticas foram ¨adequadamente corrigidos¨.
A Donzela Feroz
Estas diferenças, na forma de recontá-las, já se mostra nas epígrafes, como a do primeiro conto: A Donzela Feroz (inspirado em versões antigas de Chapeuzinho Vermelho), que diz se tratar de uma história em torno do comer e matar.
A Matéria do Silêncio
Já o segundo conto A matéria do silêncio (Inspirado em versões antigas de A Bela Adormecida), pode fazer muitos desejarem o tal final feliz.
Mas aqui também temos o medo do abandono, de profecias macabras e atitudes hediondas, muitas vezes, provenientes dos próprios pais.
Maldito pé pequeno
Por fim, temos Maldito pé pequeno (inspirado em versões antigas de Cinderela) que pode ter sido contado por mulheres mutiladas, que rondam os bosques, mostrando que os tapetes que conduziam ao altar dos palácios estavam sempre tingidos de sangue.
Mas, cortar o pé para caber num sapatinho?
…qualquer sacrifício era preferível antes de se resignar a uma vida miserável.
Enfim, uma primorosa edição da Aletria. que em conjunto com as cores, traços e tons das ilustrações de Alexandre Camanho, sugestionam nossa imaginação, nos transportam ao antigo, ao oculto, às florestas, com árvores antropomórficas, sombrios e belos seres alados habitantes do imaginário.
Imperdível!
Você também poderá saber mais sobre o processo de criação deste livro em matéria completa no site da editora, na entrevista com o autor Rodolfo Castro. (Leia aqui)
E se quiser outra sugestão de contos de fadas em versões sombrias, leia o post: João e Maria – Neil Gaiman
Veja mais sobre o livro no link:
Livro: Contos da Meia Noite do Mundo
Autor: Rodolfo Castro
Ilustrador: Alexandre Camanho
Editora: Aletria
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Publicitária, escritora e mãe da Pink e da Charlotte.
Além de escrever, amo falar sobre livros e viagens.