Neste post indico o livro Eu, Tituba bruxa negra de Salem, que vai muito além do tema ¨bruxas¨.
Estas mulheres intrigantes, reais ou não, que até hoje rondam nosso imaginário.
Curar, manipular elementos e mentes , seduzir, contestar, lutar, sobreviver. Tudo isto fez parte da história destas mulheres, parte de todas nós.
Considero este livro uma das minhas melhores leituras de 2020. Este ano que foi muito além do imaginário de qualquer um. Só boas leituras para aliviar tanto reboliço.
Então, devorei em três dias a história de Tituba.
Além de contar com um belo prefácio de Conceição Evaristo, o livro prende o leitor pois Maryse Condé, esta escritora caribenha, realmente sabe lidar com a alquimia das palavras.
Eu, Tituba bruxa negra de Salem – Maryse Condé- Ed. Rosa dos Tempos
O livro é narrado por Tituba, que historicamente participou do famoso julgamento das Bruxas de Salem em 1692 e ficou presa até 1693.
Mas os historiadores, talvez por racismo consciente ou inconsciente, não se importaram muito com seu destino.
Em um texto curto, mas potente, conhecemos a história de Tituba, desde seu nascimento e as primeiras decisões que selaram seu destino.
Como a própria Tituba diz ¨o destino é um ancião que caminha com passos pequenos, se detém, respira e segue¨.
Desde cedo, Tituba aprende que tudo que é vivo tem uma alma, um sopro, e deve ser respeitado. Aprende sobre o mar, o vento, montanhas e plantas. Plantas que curavam, davam sono, acalmavam epiléticos, faziam ladrões confessarem e punham sobre os lábios desesperados, palavras de esperança.
Então, isto é ser bruxa?
Acreditava-se que sim.
Acreditava-se em ¨obra do demônio¨ até mesmo na cor de sua pele. Soma-se a isto a histeria juvenil, a repressão, o medo e temos mulheres julgadas e sem direito a defesa. Como aconteceu no julgamento em Salem.
Mas em vez de professar a fé do colonizador, Tituba resiste, segue sempre sua própria verdade, mesmo que isto lhe cause sofrimentos atrozes.
E com as pessoas que cruzam seu caminho, se decepciona, e aprende que a maldade pode ser um dom recebido por qualquer um, desde o nascimento.
A obra lúdica e arrebatadora ao mesmo tempo se apropria da versão histórica de uma sociedade maligna e perversa, ofertando a Tituba um destino que não encontramos nos livros oficiais. Um presente de Condé a esta personagem tão cativante.
Por fim, nos sentimos também presenteados com este trabalho admirável de ficção histórica, que nos lembra a todo momento dos perigos da intolerância às diferenças.
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E se quer ler outros livros sobre bruxas, escritos por autoras incríveis, que tal começar com uma nigeriana? Veja mais no post: Bruxa Akata, fantasia ambientada na Nigéria.
Publicitária, escritora e mãe da Pink e da Charlotte.
Além de escrever, amo falar sobre livros e viagens.