Neste post comento sobre minha viagem à Cité de Carcassonne, na região francesa do Languedoc, local da ambientação do livro Labirinto, escrito por Kate Mosse.
Antes de tudo saliento a minha satisfação. É sempre muito interessante estar em locais tão antigos, descritos em livros que nos prendem por muitos dias.
Visitei a Cité de Carcassone no momento certo e ao mesmo tempo errado. Foi em uma viagem que fiz à França no começo do mês de março, pouco antes da pandemia de Covid-19 ser declarada.
Apesar disso, minha expectativa era encontrar uma atmosfera realmente medieval. Entretanto confesso que ao percorrer as ruas da Cité, num primeiro momento lamentei encontrar algo muito mais ¨moderno¨do que havia imaginado.
Parte disto se justifica pelas muitas restaurações (nem sempre adequadas) que aconteceram na cidade em diferentes épocas.
Contudo, além de uma parte um pouco mais moderna, Carcassonne é famosa por sua cité medieval com fortificações de paredes duplas que começaram a ser construídas em tempos galo-romanos.
A Cité de Carcassonne
Um local histórico, palco de muitas batalhas, como a cruzada albigense, convocada em março de 1208 pelo papa Inocêncio III contra a seita de cristãos do Languedoc, os cátaros, considerados hereges.
Mas não visitei o centro da cidade. Concentrei minha visita na cidade medieval, cercadas por muralhas antigas, que nos leva a uma volta ao tempo dos cátaros e às guerras que ali travaram.
Assim entramos pela Porte Narbonnaise, principal entrada da cité, onde logo avistamos o busto da Dama Carcas. Esta figura lendária deu origem ao nome da cidade, por ter vencido um cerco de mais de 1 ano, ao jogar um porco cheio de grãos pela muralha. A cidade dava ao inimigo a impressão que resistiriam muito ainda, escondendo a escassez de alimentos que os assolava.
A vitoriosa estratégia fez Dama Carcas ordenar que todos os sinos da cidade soassem ao mesmo tempo, em comemoração do fim do cerco, Os sons foram ouvidos a longa distância, ou seja, Carcas (sonne = som, em francês).
Bem como qualquer lugar turístico, muitos restaurantes, lojinhas de souvenirs, produtos regionais dão ao visitante a possibilidade de perambular pelas ruelas estreitas ou, se preferir, caminhar ao redor das muralhas.
Visitar a cidade no final do inverno pode ser uma boa estratégia para evitar o grande número de turistas que invadem a cidadela no verão. Têm-se as ruas mais vazias, o comércio e os restaurantes menos disputados, embora muitos atuem em horários reduzidos ou permaneçam fechados até abril.
O Château Comtal
Os principais atrativos dentro da Cité são a visita a Basilique Saint-Nazaire, com seus vitrais de mais de 700 anos, que foram desmontados e escondidos dos nazistas nas montanhas locais e o Château Comtal.
Trata-se de outra fortificação dentro da Cité Medieval, ou sua última linha de defesa, que pertenceu aos viscondes de Trencavel. É também o único acesso a uma parte das muralhas com vista para os Pirineus.
No Château Comtal, um museu conta a história da cidade do renascimento até os dias atuais, com maquetes, projeções e objetos. O acesso custa 9,50 euros.
Embora tenha começado com um objetivo religioso, a cruzada albigense foi uma guerra de ocupação que marcou o fim da independência do Sul e a destruição de suas tradições, ideais e modos de vida.
E por falar no visconde de Trencavel, vamos ao livro Labirinto, de Kate Mosse.
O livro: Labirinto – de Kate Mosse
Em princípio, o livro que me despertou grande interesse por Carcassonne foi O Labirinto, da escritora Kate Mosse.
Boa parte da história foi ambientada no Château Comtal, para falar da derrota da cidade perante a Hoste, como era conhecido o exército frânces, que perseguia os cátaros a mando da igreja e do interesse de muitos franceses pelas terras do Languedoc.
Kate Mosse ambienta sua história na Carcassonne de 2005 e de 1209 simultaneamente.
Um achado arqueológico desencadeia uma sequência de acontecimentos que liga a protagonista Alice (2005) à sorte dos cátaros (1209). E o estranho labirinto parece ligar tudo isto a um segredo que remonta a milhares de anos e aos desertos do antigo Egito.
Assim, a descrição da cidade em duas épocas distintas em Labirinto e seu ambiente de mistérios, guerras e amores, nos faz colocar Carcassonne na lista de cidade medievais imperdíveis.
Labirinto – o filme
Em 2012 Labirinto ganhou sua versão cinematogrática, com direção de Christopher Smith. Além de Carcassonne, vemos também outras fortificações utilizadas pelo cátaros, hoje em ruínas, mas que ainda permitem visitações.
O elenco, conta com a participação de Tom Felton (O Draco Malfoy de Harry Potter) no papel do visconde de Trencavel e John Hurt (o Olivaras – de Harry Potter).
Se você viu o filme Labirinto, vai reconhecer onde um dos preciosos livros da trilogia é escondido, atrás de uma pedra, próximo à pia batismal da igreja de Saint Nazaire, na Cité Medieval. A gente entra na igreja e lembra direitinho o local.
Tanto o livro, quanto o filme nos despertam a vontade de conhecer um pouco mais sobre os cátaros e as tradições do Languedoc.
E visitar Carcassonne tem um sabor diferente após tudo isso.
Dicas práticas para sua viagem à Carcassonne
Como chegar?
Optamos pelo trem pois partíamos de Lyon (3 horas). Mas Carcassonne está a aproximadamente 93 km de Toulouse e a 770 km de Paris. A estação de trem (Gare de Carcassonne) fica a 2.5 km de distância da cité medieval e ao chegar pegamos um táxi que nos levou a um estacionamento fora da Cité. Ali aguardamos o carro do nosso hotel localizado dentro da cité. Lá só é permitida a entrada de veículos autorizados.
Onde ficar?
Há opções de hospedagens dentro e fora da cité medieval, com preços variados. Pelo pouco tempo que tínhamos optamos por ficar na Cité e nossa opção foi o Best Western Hotel Le Donjon.
Foi uma ótima escolha, mas acabamos não saindo da cité, deixando o centro de Carcassonne para outra oportunidade.
O que comer?
Não poderia deixar a cidade sem experimentar um dos pratos mais tradicionais do Languedoc, o Cassoulet, mistura de feijão branco, pato confit e outras carnes, gratinado, delicioso!
Há muitas opções para degustar um Cassoulet na Cité. Fugimos um pouco dos ¨pega turistas¨ da praça principal e optamos por um restaurante que mistura tradição e modernidade, o La Table de Alais.
O chef Jeremy Thomann é membro da Academie du Cassoulet e embora tenha uma indicação Michelin, oferece até opções de cassoulet para viagem.
Vale muito experimentar. Já ouvi histórias que o cassoulet era o prato que os habitantes da cidade, em tempos de guerra, ofereciam aos soldados. Cada um contribuía com um pedaço de carne e o resultado aquecia e fortalecia a todos.
Bon appetit!
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E se você quer conhecer outros lugares medievais na França veja o post: Saint Malo – a cidade do escritor Chateaubriand
Publicitária, escritora e mãe da Pink e da Charlotte.
Além de escrever, amo falar sobre livros e viagens.